Conto do Atleticano
O Atleticano, ah, o Atleticano.
Ao acordar na quarta passada, pensava: "vamos detonar a Ponte Preta. Nosso
time é muito melhor". Sai para trabalhar e ao encontrar um desconhecido
que diga o contrário, se dá ao trabalho de perder vários minutos para convencê-lo
de que o Atlético é sim, o maior time do mundo. Como condená-lo por tal ato? O
Atleticano é assim na essência. Trabalha o dia inteiro, seja qual for sua
ocupação, pensando no jogo do Galo mais tarde. Assim que consegue a alforria,
sai em disparada para assistir ao jogo, neste caso, vai para casa ou um boteco
daqueles para ver o Galo trucidar a Macaca.
Pouco antes do início da partida,
está lá o Atleticano cheio de confiança e prevendo uma vitória esmagadora. O
time entra em campo e ele aplaude como se estivesse no estádio. Toca o Hino
Nacional e ele enche os pulmões, mas em vez de "ouviram do Ipiranga"
sai um "Nós Somos do Clube Atlético Mineiro". Começa o jogo, Galo mal
e ele continua assistindo praguejando até a quinta geração do juiz, dos
jogadores dos dois times, dos técnicos, dos narradores e comentaristas. Sim, o
Atleticano troca de canal porque pensa que isso fará o time jogar melhor.
Falha da zaga, falha do técnico,
falha de todo mundo e até dele mesmo que não passou na escolinha de base do
Galo para estar lá dentro do campo e evitar os dois gols da Ponte Preta. 30
minutos do segundo tempo e mesmo dizendo ter jogado a toalha, o Atleticano
continua assistindo ao jogo, pois sabe e sente dentro da alma que a derrota só
se confirma quando o Marcelo Oliveira está dando a coletiva na sala de imprensa.
Para o Atleticano o jogo continua mesmo depois do apito final, sonha que o gol
tomado foi defendido pelo arqueiro, que o gol perdido pelo centro avante
entrou.
Pois bem, 30 minutos do segundo
tempo, gol do Pratto. Toda energia gasta com tudo que estava ruim passa a ser
canalizada para a fé de que o gol de empate vai sair. De uma hora para outra
entram em campo os espíritos de Kafunga, do Trio Maldito, do Reinaldo, do Dadá,
do Ronaldinho Gaúcho e até do garotinho Atleticano que não passou na categoria
de base. Eles se dividem em três partes, uma vai para o Otero e impede que ele
bata o escanteio, a segunda parte vai para o Dátolo e faz ele ter a precisão do
Nelinho e a parte derradeira chuta junto com o Robinho. Gooooooool do Galo, o
Atleticano sai louco e esquece de todas as mazelas da vida, de tudo de ruim que
acontece com ele, na família ou no país dele e vibra como um gol de título,
porque, na verdade, é um gol de título, qualquer gol do Galo para o Atleticano
é um título, por isso passou tantos anos vivendo dos gols.
Bom, O Atleticano, ah, o Atleticano.
Ao acordar nesta quarta, pensa: "vamos detonar o Juventude. Nosso time é muito
melhor". Sai para trabalhar e ...
Excelente texto, Paulo.
ResponderExcluirParabéns Paulo show de Bola!!!
ResponderExcluirBeto ����