Dentro os vários significados da palavra certeza no dicionário
aurélio um chamou minha atenção, "ausência de dúvida". Cheguei em
Belo Horizonte em 1992 vindo de Belém do Pará e, remista fanático, pude
observar o comportamento de atleticanos e cruzeirenses de camarote. O que se
via à época era que os cruzeirenses não duvidavam de nada, ao contrário, tinham
certeza de tudo, inclusive de uma superioridade do cruzeiro frente ao Atlético.
Antes do jogo, o habitual sentimento de "vamos regaçar o Galo".
Depois do jogo, dependendo do resultado, sumiam ou se emplumavam e saíam para a
rua. Daí, cheguei a uma conclusão em poucos meses: esses caras só apóiam nas
boas. O resultado disso foi entregar meu coração ao Atlético. Tanto que naquele
ano o melhor jogador da temporada para mim era o Negrini. E ai de quem
discordasse. Era a minha certeza ...
Pois bem, durante 20 anos convivi com a arrogância
rival numa boa. O Galo para mim era pra vencer as partidas e ganhar título,
óbvio, mas a certeza que eu tinha que eu subiria para o Mineirão pela Antônio
Carlos e entraria no portão 9 me bastavam. Em 2012 chega um Bruxo em Belo
Horizonte e o resto da história é conhecida por todos. Porém, um dos ônus do
período de três anos ganhando tudo ecoou no mundo alvinegro. Do Presidente à
torcida. A "Certeza" que era azul estava preto e branca.
O Hashtaguismo se instalou e nos anos seguintes "nossas
certezas" nos fizeram demitir técnicos aos montes. 2018 parecia/parece que
iria/vai pelo mesmo caminho. " Cazares não dá mais", "Some do
meu Galo, Patric", "Léo Silva é lento", "Se não contratar
vamos cair no Brasileirão". Essas e outras frases foram ditas em
fevereiro. FE-VE-REI-RO. E no dia 10 daquele mês, por sorte, por causa do
Gomide, não importa, o cavalo passou arreado na porta de Thiago Larghi. Menos
de dois meses depois as certezas de antes não existem mais. Não precisamos aqui
debulhar os números do footstats. Basta olhar para o campo. Um time que não
apresentava nada nas mãos do Oswaldo, passou a jogar de acordo com o momento da
tabela, característica dos adversários e, aos poucos, foi tomando corpo e está
prestes a conquistar o campeonato mineiro. Podemos discutir se o Oswaldo teve
tempo. Mas não é o momento.
Agora, cabe ressaltar o que esse rapaz fez em menos de
60 dias. E para isso, olhem para o campo. A evolução de Patric, Adilson e
Cazares são exemplos cristalinos. Cadê a lentidão do Léo Silva? Muitos ainda
lembram que o mineiro não é parâmetro, ao que eu sempre respondo: qual estadual
é parâmetro? O que o campo mostra é parâmetro. E o que Thiago Larghi fez em 60
dias com este grupo é credencial suficiente para que ele fique, no mínimo, até
o final do Brasileirão. Reforços devem e precisam chegar. E justamente por
isso, Larghi deve ser efetivado como nosso treinador. Tenho certeza que o
trabalho renderá frutos a médio e longo prazo.
Quer dizer que tenho certeza do título no domingo ou
qualquer outro título no ano? Não, claro que não. O futebol é o esporte onde o
imponderável mais atua. Em 2005, meu coração doeu tanto que eu achei que tinha
certeza que ele iria parar. Certeza mentirosa, pois em menos de 30 segundos eu
cantava o hino do Galo chorando e percebi que a única certeza que eu tenho é
que serei Atleticano para sempre.
@pauloazulay